Esse é o meu universo: o que eu ouço, o que eu penso e o que eu vivo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Regras de Caça


Se os planos são feitos para alcançar metas, e pensados, geralmente, em mínimos detalhes, por que fogem ao controle? Se uma coisa tem tudo pra dar certo, por que simplesmente não dá?

Era pra ser uma noite animada, com música, luzes, dança, álcool... e foi. Era pra entrar naquele clima, dançar, brincar, rir... não foi. Boate lotada, pessoas razoáveis, música perfeita... nada que algumas doses de vodca não pudessem melhorar ainda mais. No início, varias idas ao bar para adiantar o processo de entrosamento e desinibição. Até aí, nada diferente. Tudo rolando normal.

Um pulo no bar e três pulos na pista, para curtir o som, observar o movimento e assinar a lista de presença. Funciona assim: você finge que ta dançando, assim os movimentos permitem que você olhe para várias direções, procurando a caça (pra quem é caçador), bem como ser visto de vários ângulos (pra quem é caça). Ficar trocando de lugar ajuda bastante no jogo, seja você caça ou caçador.

Eu me considero um caçador meramente esportista. Caço pelo prazer de caçar. Escolho a vítima, monto a armadilha e fico observando. Se ela cair eu me divirto, se não eu junto minhas armas e vou caçar em outro lugar. Abandonando as metáforas, dou a entender que estou interessado. Se ele vir falar comigo, a gente realiza os desejos em comum, mas se ignorar, eu simplesmente parto para o próximo alvo. Tudo isso soa um tanto pré-histórico, eu sei, mas boate não passa disso: um campo de caça. Igualmente cheia de perigos e surpresas.

Essa não era uma noite pra caçar. A noite anterior tinha sido tão gostosa, em tão boa companhia, que eu ainda me sentia no quarto dele, ainda sentia o sabor do vinho na boca e o cheiro dos lençóis. Por isso até deixei as armadilhas em casa. Erro grave. Antes tivesse as armas levado por precaução. Devia ter lembrado de que aquilo ainda era um campo de caça e quem não é caçador acaba se tornando a caça.

Por um tempo, pude brincar de escapar das armadilhas dos caçadores. Outro esporte estranhamente divertido: dar foras. Porém foram poucos, e também um tanto deprimentes. A temporada de caça aos brancos-loiros-olhos-verdes-altos-magros estava fechada há tempos. Talvez se fosse menos magrinho chamasse mais atenção.

Percebi que era melhor voltar aos planos iniciais: beber e dançar. Estava conseguindo retornar ao clima até ver o cara que eu vinha ficando nas semanas anteriores ficando com outro. Comecei a rir... de mim mesmo, porque estava entrando em contradição. Fiquei olhando, esperando ele olhar e me ver olhando. “Será que to invisível?” Acabei tendo que passar por ele e ainda esbarrar pra ser visto. Sorri pra ele com deboche e ele sorriu de volta. Não consegui definir se olhar dele para mim era surpresa ou indiferença.

Será que eu tava com ciúme ou despeito? Fui beber algo mais forte. Tem idéias que é melhor embaçar do que clarear. Mas poxa! O cara reclama se eu não digo oi, ou se digo oi e não fico. Vem com papo de namoro depois do quarto beijo, mas tem o prazer de esfregar na minha cara que ta pegando com outro. Antes tivesse me escondido dos olhos dele, pois depois disso ele ficou horas desfilando na minha frente exibindo a nova “caça”. Meu trabalho foi sorrir com sarcasmo como resposta aos olhares cínicos dele. Até começar a me sentir uma toupeira empalhada na estante dele. Nem sei se se caçam toupeiras. Pobre espécie covardemente usada pra esse tipo de metáfora. Fiquei pensando: o que eu esperava que fosse acontecer? Que ele deixasse o outro e viesse ter comigo? Ridículo! Pior nisso tudo foi que descobri que não sou um bom caçador, que sou mesmo uma mera caça, que sente prazer em estar na mira, frágil e cobiçada.

Para os males, drinques mais fortes. Dose dupla por favor. O estomago já pedia clemência, mas a cabeça continuava lúcida. Metade da festa já tinha se perdido nisso tudo. Na minha posição de “bicho empalhado”, fiquei observando os casais se formando. Ainda havia várias e boas opções disponíveis para quem quisesse criar uma oportunidade. Não seria eu quem criaria tal. Ainda estava decepcionado comigo mesmo por descobrir que além de ser caça, ainda facilito para os caçadores. Mesmo quando é só pelo prazer de dar foras. Mas isso também já é humor-negro. Degradante.

A essa altura da festa, o tédio já tinha me tomado. Em minha cabeça pairavam perguntas do tipo “pra que serve sua vida?” e “o que veio fazer aqui?”. Eu não pertenço a esse lugar, não sirvo pra essa vida. Definitivamente. Ainda bem que logo iria amanhecer, eu iria embora e me livraria daquele ambiente hostil por um bom tempo. Eu tava mesmo era sentindo falta de alguma coisa. Então o celular vibrou no bolso e me respondeu o que era.

Era o menino da noite anterior, com quem passei a noite abraçadinho. Mandou uma SMS perguntando como estava a festa. Minha resposta em 159 caracteres e espaços:

“A festa ta péssima e eu espero nunca saber o motivo. Espero que eu me apaixone por vc e que vc me faça sofrer pra não fugir à maldição. Droga! Queria vc agora.”

Apertei enviar contra minha própria vontade. Já estava tudo uma merda mesmo. Que se dane mais essa exposição. Ainda preciso responder as perguntas iniciais...

Nós seres humanos, vivemos de regras e emoções. Criamos regras, impomos regras e modificamos essas regras conforme mudam essas emoções. As emoções, como se sabe, mudam de acordo com as situações. Daí são tantas as regras e tantas essas modificações, que nós mesmos nos perdemos em meio delas e assim colocamos tudo a perder. Coisas fogem ao controle porque somos vulneráveis às emoções e às nossas próprias regras. Por isso dá tudo errado. Infelizmente, tudo precisa de regra. Até mesmo pra caçar tem que ter regra. Então simplifique as suas ao máximo. Não as complique como eu.

3 comentários:

  1. há! Olha eu aqui
    rsrs
    bjs

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  2. Hello, as you can see this is my first post here.
    Hope to get any help from you if I will have any quesitons.
    Thanks in advance and good luck! :)

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  3. Ok... but, always identify yourself, please

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